sábado, 28 de fevereiro de 2009

Portfolio Leibovitz

por Fernando Gil Paiva


Há algumas semanas atrás fui apresentado ao nome de uma pessoa que me fez querer muito conhecê-la. Tudo parecia um simples link e um “Você tem que ver essas fotos!”, mas na hora confesso que nem dei muita atenção. Um dia depois, “Você tem que ver as fotos!”, foi quando conheci a mágica da fotógrafa Annie Leibovitz por meio do site da revista americana Vanity Fair (Feira das Vaidades) que trazia um filme todo contado por meio de 16 imagens que tinham a capacidade de sintetizar todas as emoções e acontecimentos descritos em sua sinopse que vinha logo abaixo.
Killers Kill, Dead Men Die (Assassinos matam, homens mortos morrem) trouxe a amarrada trama de um assassinato a analisado e um assassino a ser descoberto.

O CAMAROTE. INTERIOR EL HAVANA, BACKSTAGE – NOITE
O Cubano (Pedro Almodóvar) gerencia um interessante e limpo clube. Ele não quer nenhum problema, embora possa ter ouvido algumas coisas. Que tipo de coisas? Apenas coisas, é isso. Coisas que fazem um homem suspirar “assassinato” na noite. Sua dançarina vedete número um, Doña Perfecta (Penélope Cruz), que fechará a noite com sua miscelânea pessoal — seu excitante número patriótico, uma balada de amor, e sua bem sucedida rumba—elabora: Ela diz que pode ou pode não ter ouvido o tal Oscar na noite que ele foi assassinado e que tinha uma certa aposta numa certa luta de boxe. Além disso, ela não sabe nada. Exceto que a luta em si pode ou pode não ter lugar no Fórum essa noite em especial, e que o estudante Simmons pode ou pode não ter provado o chão do ringue no quarto round de sua luta com Sugar Foot Robinsonbe.

Depois disso, ainda não saciado pela habilidade espantosa dessa Artista, fiquei diante de um novo grupo de trabalho não menos elaborado que o anterior. O talento e as habilidades pareciam nunca estar limitadas a uma certa dificuldade.

Próximo da premiação do Oscar, Annie selecionou o que seriam os casais de sucesso da vez, o trabalho foi chamado de The Hollywood Portfolio . Abaixo, a foto da dupla Mike Rourke e o diretor Darren Aronofsky (Réquiem Para um Sonho) para o filme The Wrestler (O Lutador).


A terceira grande admiração veio de uma sessão de fotos com temáticas de filmes da Disney. E foi pela primeira vez que descobri que uma foto também pode ter um making off, as da Annie tem! Numa delas, da Pequena Sereia, com a atriz Juliane Moore e o nadador Michael Phelps, que esteve literalmente embaixo d’água para fazer jus ao seu grande diferencial. É disso que os olhos precisam - arte precisa!

Fotografando além do que se pode imaginar.

Resultado final.

Anna-Lou (Annie) Leibovitz nasceu em Westport, Connecticut no dia 2 de outubro de 1947. Ficou famosa por realizar retratos, e cuja marca é a colaboração íntima entre a retratista e seu retratado. Annie já trabalhou na revista Rolling Stones, em campanhas do cartão American Express e trabalha como retratista da revista Vanity Fair.


Para quem quer conferir as sessões completas descritas acima acesso os links abaixo:

Sessão Killers Kill, Dead Men Die:

http://www.vanityfair.com/culture/features/2007/03/filmnoir_portfolio200703

Sessão The Hollywood Portfolio:

http://www.vanityfair.com/culture/features/2009/03/actors-directors-portfolio200903

Sessão Disney ---> Outras fotografias em postagens anteriores no mesmo blog.

http://milliondreamphotos.blogspot.com/2008/08/annie-leibovitzs-disney-fantasyland.html

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

E, falando em divas...

Por Géssica Vilela

Depois de Penélope Cruz, Anjelica Huston e até Janis Joplin... A homenageada da vez é também uma diva, mas diferente das outras aqui antes mencionadas. Uma diva que, diante das câmeras, atraiu críticas negativas e tornou-se alvo de chacotas... Mas que mostrou que divas não são só aquelas que exibem belos corpos e atuações impecáveis... Afinal, foi atrás das câmeras e com o megafone na mão que Sofia Coppola revelou, finalmente, o talento herdado [ou não] do pai.
Quem achava que a filha de F. F. Coppola seria sempre o patinho feio de O Poderoso Chefão III (1990) e Star Wars: Episódio 1 - A Ameaça-Fantasma (1990) se enganou completamente. Vencedora de dois prêmios "Framboesa de Ouro" - um por pior atriz coadjuvante e outro por pior revelação do ano - e indicada a pior revelação da década, Sofia só tinha 19 anos quando percebeu que, diante das câmeras, o máximo que conseguiria adquirir era uma depressão profunda.

Em seu final trág...cômico, em O Poderoso Chefão III, como Mary Corleone (1990).

Enfim, quando resolveu abandonar Hollywood, começou a mostrar interesse por fotografia, figurino e chegou a participar de alguns trabalhos do irmão, Roman Coppola, que trabalha com videoclipes [de bandas como The Strokes, Arctic Monkeys e Daft Punk].
Depois de algumas pontinhas nos trabalhos do irmão, em 1998 lança seu primeiro curta reconhecido mundialmente [ou quase], Lick the Star, que já mostra traços da Sofia que conhecemos. O curta tem aproximadamente 14min e conta com a fotografia impecável, a trilha sonora indie e a abordagem sobre a feminilidade típicas da menina Coppola.
E esse foi o [RE]começo marcante de Sofia que, depois disso, surpreendeu o mundo [agora sim, o mundo!] com suas Virgens Suicidas (1999), seus Encontros e Desencontros (2003) e, por último e não menos importante, sua [e só sua] Maria Antonieta (2006).
Em cada um de seus trabalhos como diretora, Sofia mostrou-se uma diva... Colocou outras divas, como Kirsten Dunst e Scarlett Johansson, diante das câmeras e postou-se maravilhosamente por detrás delas, onde [concordemos] é o seu lugar. E não tem deixado a desejar...
Hoje, com apenas 37 anos, Sofia Coppola já é reconhecida como a ótima profissional que é e ganhou prêmios de melhor roteiro original [Óscar e Globo de Ouro com Encontros e Desencontros], melhor diretor estreante [MTV Movie Awards com As Virgens Suicidas], entre alguns outros... Prêmios esses, devidos especiamente a seu jeito peculiar de fazer cinema.
Fica difícil escolher qual o melhor filme de sua carreira promissora [como diretora, claro].

Cena de As Virgens Suicidas (1999)... Quatro das Cinco irmãs kamikaze de Coppola.


A maravilhosa Scarlett Johansson [ou parte dela], na cena inicial de Encontros e Desencontros (2003)

E um pedacinho de Kirsten Dunst em Maria Antonieta (2006), a última rainha de França... Sim, aquilo é um all star.

Telefonemas à beira de um ataque de nervos...

por Fernando Gil Paiva



Se você está numa festa com companhias desconfiáveis, se seu telefone toca constantemente e coisas absurdas parecem acontecer além do que dita a física, você:
a) Sofre de algum tipo de disfunção psicológica;
b) Está vendo provavelmente algum filme de David Lynch mais precisamente A Estrada Perdida.
Tentar buscar muitas explicações para as perdições dessa estrada podem te levar a um mapa um tanto difícil já que você nunca será capaz de fazer com que todos os fios desse novelo se separem em infinitas linearidades. É tão simples quanto saber que certos nós não podem ser de forma alguma desatados ou tão complexo quando tentar desatar o nó que você já sabe o fim.
Por essas e outras Estrada Perdida (Lost Highway) não está preso aos padrões de filmes facilmente entendíveis, daqueles que você termina e já sabe imediatamente qual é a moral. Lynch está longe de querer levar morais, está mais para contemplações de coisas que de tão absurdas se tornam obras de arte que não nos cansamos de admirar.
É incrível como cada ato que se desencadeia faz com que nos percamos mais ainda e isso faz com que só queiramos, cada vez mais, entender o que está acontecendo de tão extraordinário.

"Atenda ao telefone!"

Quando sua campainha tocar, verifique se foi você mesmo que tocou.
Quando seu telefone chamar e você responder do outro lado...
Quando você se enxergar em outro alguém ou exergar outro alguém em um terceiro alguém... Possivelmente estará apto a encontrar respostas claras para o filme.
Do contrário, admire-se e quebre sua cabeça tentando começar a entendê-lo.

Sinopse: Fred Madison (Bill Pullman) é um saxofonista de jazz vanguardista que é casado com Renee (Patricia Arquette). Fred suspeita que Renee pode ser infiel a ele, mas percebe que tem coisas maiores para se preocupar quando alguns vídeos aparecem na porta da sua casa, provando que alguém está observado a casa por fora e por dentro (um vídeo mostra ele e Renee dormindo). Quando Renee é encontrada morta, Fred é preso e condenado por homicídio em primeiro grau. Entretanto em uma manhã não está mais em sua cela e se transformou aparentemente em Pete Drayton (Balthazar Getty), um jovem mecânico de automóveis que é libertado mas tolamente se envolve com a mulher de Dick Laurent (Robert Loggia), um gangster, chamada Alice Wakefield (Patricia Arquette), uma loira bem sensual que é exatamente igual a Renee.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

“...Podem tirar as perucas...”

por Fernando Gil Paiva



A cerimônia do Oscar 2009 trouxe um diferente formato de apresentação dos indicados de melhor ator e atriz, incluindo coadjuvantes. Ao invés do último ganhador da categoria entregar o prêmio ao candidato de sexo oposto do ano atual, um pequeno memorial foi edificado.

Logo no início da festa, após uma sessão musical do então apresentador Hugh Jackman (X-Men e Fonte da Vida) e a atriz Anne Hathaway (O diabo veste Prada) o primeiro prêmio da noite foi um dos grandes esperados.

A disputa entre Amy Adams (Dúvida); Viola Davis (Dúvida); Marisa Tomei (O Lutador); Taraji P. Hanson (O Curioso Caso de Benjamin Button); e Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona) não mais seria anunciada por Javier Bardem, como uma lógica de anos anteriores poderia dizer. No entanto um vídeo com o momento do anúncio das premiações com as melhores atrizes coadjuvantes serviu para dizer que cinco dessas ganhadoras estariam ali presentes.

Eis que entram Goldie Hawn (A morte lhe cai bem); Whoopi Goldberg (Mudança de Hábito); Tilda Swinton (Conduta de Risco); Eva Marie Saint (Sindicato dos Ladrões); e Anjelica Huston (que ganhou por ‘A Honra do Poderoso Prizzi ‘) e cada uma delas faz uma pequena homenagem a cada uma das atuais indicadas.
Foi nesse momento, ao ver Anjelica Huston e seu conhecido rosto de feição marcante, que um lapso de segundo se abriu e de certa forma o tempo parou ao me lembrar de filmes igualmente mencionáveis feitos por ela. Entre eles, a divertida história da Família Adams que já fazia sucesso há décadas, Crimes e Pecados e outro, que, a meu ver, é o grande memorável.
Basta ter lido o título deste post para que naturalmente nossa memória completasse o que vinha antes e o que vinha depois das reticências. “Podem tirar as luvas, os sapatos... Podem tirar as perucas... E as máscaras”. O ato de dizer o nome da personagem Eva Ernst, a rainha, já era suficiente para que quem estivesse assistindo se lembrasse das faces de Anjelica Houston e sua poderosa Convenção das Bruxas (1990).
E assim os anos se passaram e a incessante história das bruxas britânicas de sapatos de ponta quadrada que exterminavam crianças transformando-as em ratos acompanhou ao lado de outros clássicos como Esqueceram de Mim, Os Fantasmas se Divertem, Quero Ser Grande, Edward Mãos de Tesoura, O Jardim Secreto e por que não Free Willy e muitos outros?
Em seguida, após essa rápida parada de tempo, a voz retornou a Tilda Swinton que anunciou o nome de Penélope ao abrir o envelope da academia. A convenção das melhores coadjuvantes havia terminado para 2009.

Anjelica Susan Huston nasceu em Santa Monica, Califórnia, no dia 8 de Julho de 1951.

“Espere! Espere! Sinto cheiro de...”

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Esperas

por Fernando Gil Paiva

Enquanto caminhava logo bem cedo, antes mesmo do despertar das maiorias, quando os ônibus do fim da madrugada levavam os primeiros trabalhadores para pontos isolados da cidade, parei para sentar e foi quando tudo aconteceu – lembrei-me do sonho que tivera ainda poucos minutos atrás e esse mesmo sonho me fizera lembrar de um segundo fato de um tempo mais anterior.

Foi surgindo o rosto do menino num fundo preto e sem limites. Era apenas uma criança sentada em um banco num longo corredor. Então surgiam outros meninos, crianças quase da mesma idade e gritavam seu nome para que viesse brincar. Foram para um quarto branco e com uma fina divisória no meio. Os que não queriam brincar ficaram deitados, mas a maioria deles se encantou com os pequenos animas, fossem selvagens ou não, de uma coleção de miniaturas. Da divisão viu-se que alguns desses animais tinham uma capacidade artificial de voar por um impulso ou reflexo de um braço incontido. Depois todos pararam e foram deitar-se com os que já estavam.

O mesmo menino do início que fora chamado para a rápida brincadeira saiu do quarto e ficou sentado no mesmo lugar que antes. Viu que ao lado do portal havia um calendário que eliminava constantemente a soma dos dias daquele ano, mais um ano em sua vida. O menino de olhos arregalados e não “com olhos arregalados” saiu andando pelo corredor e depois voltou para o assento.

Das habilidades.

No entanto, podiam reprisar aqueles momentos infinitas vezes que o mesmo olhar e a mesma espera seriam novamente formados naquele interior enigmático e ego esperançoso. O tempo passou e depois de algum tempo eu já não estava mais lá vendo a pequena frota interna de pequenos animais com habilidades de vôo. Eram apenas plásticos criativos. Habilidade maior era própria e inerente àquele indivíduo, que soubera esperar... Espera que ficou marcada a um equivalente de reticências, pois percebo que nunca mais ouvira falar daquele menino. E para mim soa como espera eterna – habilidade de toda uma vida.

Isso poderia ter sido o sonho que me fizera lembrar de algo mais antigo, mas o fato é que há minutos atrás estava eu mesmo naquele longo corredor de espera do hospital que um dia estivemos todos, eu no ponto da espera e agora, sentado aqui, vejo-me na mais corrosiva dúvida. O que terá acontecido a ele? Onde estará o garoto dos olhos destacados?

Das inabilidades.

Que servem para frisar algo que fica como uma lacuna da memória daqueles que também o viram [eu], também como lacuna de vida para ele que todos nos viu, exceto aqueles que tanto esperou [ e que não vieram]. O fato é que em sua chegada ficaram apenas promessas duradouras de pais que nunca voltaram, fosse numa tarde de cartas, manhã de visitação ou noite não mencionada. Em suma, um ser que passou cada momento do seu caminho para cura acompanhado de uma falsa esperança que, paradoxalmente, deverá ter dado suas maiores forças já que sempre acreditou e mais que tudo... Esperou.

Levanto do banco, o sol já aparecendo no céu e as pessoas a caminhar pela calçada atrás. Cada passo incerto leva para um tempo remoto de dias que, quase como um ciclo incerto, parecem revistar minha memória e possivelmente a de todos que contribuíram para aquele momento, estivessem em meio às ilusões das brincadeiras ou deitados pela impossibilidade do ato físico da locomoção.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Marias Helenas
Fernando Gil Paiva


neurótico
neu.ró.ti.co
adj (neurose+ico2) Que se refere a neurose. sm Indivíduo que padece neurose. Var: nevrótico.
Insuficiente. Trata-se de um quadro de insuficiência, pois não bastaria uma única definição para algo que está tão além, pois mesmo não sendo parte de um plano real, faz de seus planos (no cinema) algo que todos são um pouco, ou muito por assim dizer.

Assim concretizou Penélope Cruz quando fez de si a própria inspiração das neuroses, inconstâncias e incongruências dentro de um ser humano, não fugindo de sua inclinação própria do pós-moderno e suas inerentes dualidades.

“Schopenhauer chamou atenção para o caráter equívoco da vida, sua ambigüidade fundamental, também sua polissemia. Quanto a nós, há o fato de querermos estar aqui e ali, o desejo e a insatisfação, a dialética constante contra a estática e a dinâmica”. (Maffesoli, 2001).

“Maria Helena dizia que apenas amores incompletos poderiam ser românticos”. Que seriam dos amores incompletos não fossem seres incompletos? Sim, estes que são formados por suas próprias dualidades, mas que na maioria das vezes não são simultâneas. Por isso, ou se é um ou será outro. Serão sempre as inconstantes Marias Helenas.

Talvez seja esse o fator “facilidade” ou “identificação” de qualquer pessoa para com a pessoa de Penélope, em seu sentido profundo de posse e incorporação. Existem Marias, tal como existem Vickys (de Rebecas) e Cristinas (por outras Scarletts também identificadas), que são realidades facilmente tocáveis por seus expectadores, em suas mais variáveis aparições.

Parabéns, Penélope por seus múltiplos desdobramentos e suas inconstantes passadas, presentes e futuras atuações! Maria não é apenas uma personagem... é o fictício vestido do que há de mais verdadeiro!

Cruz e Allen, parceiros em um Oscar, um Bafta, um Gaudí e muitos outros prêmios consagrados na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante por Vicky Cristina Barcelona...

Penélope e Almodóvar em um dueto pós moderno e não menos consagrado.

Vicky Cristina Barcelona teve a participação de Penélope Cruz, Rebecca Hall, Scarlett Johansson, Javier Bardem e Patricia Clarkson. Foi escrito e dirigido por Woody Allen.

A bela da noite.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Ser humanA

"Algum dia eu ainda irei compor uma música que explique o que é fazer amor com 25.000 pessoas durante um show e depois voltar sozinha pra casa" (Janis Lyn Joplin)

Por Dafne Spolti
Não podia deixar de falar da querida Janis Joplin. E nem sei por que a chamo de querida, sendo ela tão encrenqueira e muitas vezes chata como era. Acho que é porque mesmo assim ela era uma pessoa amável.

Boa parte de quem me conhece sabe que eu gosto da Janis. Adoro e queria que todos gostassem, mas ao mesmo tempo, tenho um sentimento egoísta de querer guardá-la apenas pra mim. Impossível, claro.

Conheci a Janis em 2001. Eu tinha uns 13 anos e ela já tinha morrido há 31, com seus 27 anos de idade. Era uma tarde inútil da minha vida e comecei a procurar o que fazer. Aí tinha uma fita de VHS em casa. Eu sabia que já tinha assistido alguma vez, mas nem lembrava direito. Fiquei em dúvida entre os “Doors” e a Janis. Escolhi a Janis.. E aí foi um negócio de doido! Eu estava sozinha em casa e vibrei. Ela não cantava. ELA VIVIA AQUILO QUE ESTAVA CANTANDO! ERA TODA CORES, TODA SOM...

Nesse período “mais Janis” da minha vida eu passava, então, todas as tardes assistindo o filme. Dava pra ver umas duas vezes até a família chegar em casa e aí acontecer toda aquela história de cachorro pulando, de tirar um monte de coisas do carro etc. Mas gente, lógico que eu não ficava parada na frente da TV. Eu dançava que nem doida, tentava fazer os mesmos movimentos que ela, até que comecei a interpretar “Summertime” para a família. Eles adoravam e eu ficava me sentindo a própria Janis Joplin. Ah, e eu também comecei a me encher de bugigangas para ficar parecida com ela, e ainda fazia desenhos. Pausava o filme e botava o lápis pra correr no caderno de desenho.

Aí a gente colocou internet em casa. Baixei mais ou menos umas 600 fotos. Eu ficava relacionando as pessoas das fotografias com as citações que a Myra Friedman fazia na biografia da Janis “Enterrada Viva”. Um dia o computador foi formatado e eu perdi tudo.

Depois disso eu tinha vontade de fazer pesquisas sobre a Janis Joplin, de ir pro Texas conhecer a cidade onde ela nasceu etc etc... Aí essa fase foi substituída pelas reflexões do tipo: “Por que será que eu gosto tanto da Janis?”.

Tinha muito artista bom por aí que também podia ter todo o meu amor. Mas com a Janis era diferente... musicalmente maravilhosa, mas não era só isso. Aí comecei a entender. A Janis Joplin era uma das pessoas mais humanas que conheci. E ainda por cima não escondia isso. Ela é cheia de defeitos, cheia de neuroses e grilos na cabeça, reflexiva e sensível ao extremo. E é por essas pessoas que me encanto. A Janis não é uma cantora dos anos 70. É um ser humano que sofria, importunava as pessoas, que era extremamente inconstante, que isso e aquilo.... e tudo e tal....

Observem: Não consegui definir se falava no passado ou no presente. Pode?
Bananas

por Fernando Gil Paiva



"Boa tarde. Mundo dos Esportes está na pequena República de San Marcos. Mostraremos ao vivo para vocês um assassinato sumário. O presidente deste adorável país da América Latina será morto... E substituído por uma ditadura militar. Todos estão tremendamente eufóricos e tensos. O clima nesta tarde de domingo está perfeito. Vimos uma série de tumultos coloridos que começou com o tradicional bombardeio à embaixada americana, um ritual tão velho quanto a cidade. Em seguida, o líder do Sindicato Trabalhista, Julio Doaz foi arrastado da sua casa e surrado pela multidão enfurecida. Foi um dos espetáculos mais emocionantes que já vi. Talvez mostraremos em replay mais tarde. Em toda parte, há bandeiras e chapéus coloridos e o momento que mais aguardávamos chegou. Todos estão quietos. O presidente vai sair e descer a escada do palácio. Passemos para o local da ação. É com você, Howard!"

Assim, começa a o início do fim de El presidente para dar lugar a ditadura militar do General Emilio Molina Vargas. Esta também é a história de Fielding Mellish, um homem que se apaixona por uma ativista política que vive nos Estados Unidos. Com isso, movido pelos sentimentos do amor e encarnado de um real revolucionário, parte para San Marcos para juntar-se aos semelhantes – o que faz com que seja empossado em um cargo de grande notoriedade.

Assim, Woody Allen mostra de uma forma satírica um pouco da idéia do que foram as ditaduras na América Latina. Com muitas cenas embasadas no improviso, vários dos personagens do filme, incluindo Allen, agiram de tal modo em prol da pura naturalidade.

O exagero é outro elemento [melhor não comentar], mas que é claro, intencional e explícito. É provável que nossos olhos muito acostumados à busca do real no irreal se assustem ao ver o irreal nele mesmo. Mas isso é atribuído à apenas alguns de seus efeitos, ou ausência deles.

Como curiosidade e para ressaltar o fator improviso, os músicos ao fundo em um salão de jantar apenas optaram pela mímica dos instrumentos porque estes não chegaram a tempo para o momento das gravações, algo que acabou se transformando em ponto positivo na lista de chistes do diretor.

Bananas marca o início de um longa carreia que ainda persiste, quase sem falhas, com um filme por ano – ritmo mantido por poucos. 37 anos depois de muita tropicalidade, Allen segue com o tópico calliente tirado do seu intacto saco de idéias mantido a décadas filmando o último grande sucesso Vicky Cristina Barcelona, que merecerá um post em breve.

Fielding Mellish, tendo chegado a um patamar alto para conquistar o amor de Nancy recebe a inesperada mensagem e logo notifica: "Você acredita nisso?! Ela diz que não sou líder suficiente para ela. Quem ela estava procurando... Hitler?"

Sinopse: Fielding Mellish (Woody Allen), um testador de produtos de uma grande firma, é apaixonado por Nancy (Louise Lasser), uma ativista política. Ele assiste manifestações e tenta provar da sua maneira que é merecedor do amor dela, mas Nancy quer alguém com maior potencial de liderança. Então Fielding vai para San Marcos, uma republiqueta na América Central, e lá se une aos rebeldes. Durante uma viagem Fielding reencontra Nancy novamente e ela se apaixona por ele, agora que é um líder político.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

SUR[EUSOCIALIDADE]REAL

por Fernando Gil Paiva

Tal como as complexas organizações das formigas, alguns seres humanos parecem ter atingido certo ponto de equilíbro capazes de gerar, entre si, o cuidado criativo de um para com o outro, pelo menos por um período de suas vidas.

Indivíduos eusociais apresentam três características fundamentais: a primeira delas seria a capacidade de sobrepor gerações em um mesmo local; a segunda o cuidado cooperativo com sua prole; e o último, uma divisão de tarefas.

Leia-se ou releia-se: Para dois indivíduos, separados quatro anos entre si no nascimento, e mais alguns milhares de quilômetros, nasceria tal qual a complexidade das eusociedades, a complexa e psicodélica amizade entre Salvador Dalí e Luís Buñuel, o primeiro espanhol e o segundo Mexicano. Ambos residiriam em tempo comum em Madrid. Em seguida, as formigas começariam a se movimentar.

O ponto de equilíbrio da solução começava a ser elaborado e com uma intensa amizade entre eles, começam a ser sobrepostas suas ideias, ambições, desejos e sonhos... culturas de um convívio de mergulhos sem fim na arte, fosse ela em óleo e cores, fosse em películas e ausência das mesmas.

Depois, o cuidado de um com o outro e da união que levaria ao cuidado de suas proles fílmicas e artísticas. Terceiro pela condizente divisão entre as equipes realizadoras de trabalhos que se efetuariam.

Assim, fez-se a luz.

Em 1928, na França sairia o fruto chamado UM CÃO ANDALUZ, que servia como exemplo de abolição de uma lógica previamente posta e estabelecida pelos padrões daqueles que se diziam no poder. Seria um dos 17 minutos mais avassaladores à mente humana provocados pelo homem nesse âmbito.

E dois anos depois viria outra não convenção como A IDADE DO OURO, antes que Dalí saísse do cinema para dedicar-se apenas ao que era sua vida em arte [arte em vida]. E depois disso, o interrompimento das proles, não da sociedade.

Da esquerda para a direita: Salvador Dalí, José Moreno Villa, Luis Buñuel, Federico García Lorca y José Antonio Rubio Sacristán, em La Bombilla (Madrid). Foto da rodagem de "La Edad de Oro".

Restam aos atuais o cargo da contemplação, que nem mesmo mirmecólogos, puramente estudiosos de formigas, tangenciam o que foi a trama entre esses dois amigos.

Da obra dos dois, marca-se uma possível intersecção fundamental:

As formigas, de Um Cão Andaluz (1928), na mão que se contrai e no tempo vulnerável dos relógios de uma memória inclinada a persistir.


A persistência da memória (1931). Salvador Dalí.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Geniais “Ks”!

Por Madiano Marchetti


Fotografia de Josef Koudelka -Tchecoslováquia - Praga 1968


"O tempo humano não gira em círculos, mas avança em linha reta. Por isso o homem não pode ser feliz, pois a felicidade é o desejo da repetição.”

"A vida humana acontece só uma vez, e não poderemos jamais verificar qual seria a boa ou a má decisão, porque, em todas as situações, só podemos decidir uma vez. Não nos são dadas uma primeira, segunda, terceira ou quarta chance para que possamos comparar decisões diferentes"

Trechos do livro “A Insustentável Leveza do Ser" - Milan Kundera

Milan Kundera é escritor, músico, roteirista e “Tcheco”.
Suas obras são miscelâneas de filosofia, política e romance. Nascido em 1929, Kundera não só escreveu, mas também fez parte do partido comunista Tcheco até 1950, quando foi expulso.
Publicou em 1984 “A Insustentável Leveza do Ser”, considerada por muitos a sua melhor obra.
O livro narra às desilusões e as angústias que circulam o (des)Amor, as relações, e a Vida de quatro personagens – Teresa, Tomas, Sabina e Franz - e tem como pano de fundo o episódio que ficou conhecido como "Primavera de Praga", de 1968, quando os soviéticos invadiram a cidade de Praga, Tchecoslováquia.
Usando idéias dos filósofos Parmênides de Eléia e Friedrich Nietzsche, kundera esboça, além de outros assuntos ligados a natureza humana, o “eterno retorno”* (Teoria nietzscheana).
Teresa – personagem do livro – é uma jovem mulher que passa por transformações (sentimentais e profissionais) durante a obra. De garçonete, em bar com muitos bêbados, para uma fotojornalista.
Teresa desempenha um papel político muito bem exposto e criticado por kundera. Ela Fotografa a invasão russa, que acontece em Praga, em 68.
Em uma transposição da ficção para a realidade, encontramos esse papel desempenhado por outro personagem.
Josef koudelka é escritor, fotógrafo e também “Tcheco”.
Koudelka fotografou durante sete dias a invasão soviética, em praga. Suas fotografias se tornaram clássicas e gravaram no tempo a resistência e o sofrimento vivido no país – gerador de grandes “Ks”.

“Ks” – filosofia, política, literatura, fotografia, cinema... Kundera e Koudelka.

Em uma entrevista cedida à jornalista Melissa Harris, Koudelka comentou sobre o lançamento do livro "Invasio 68" e sobre o ato fotográfico.

“Em 1968, eu não sabia nada sobre fotojornalismo... Quando fotografei a invasão soviética, eu fiz para mim mesmo. Eu não pensei em um ensaio fotográfico ou em uma publicação... Estas podem ter sido situações de perigo, mas eu não as senti... A boa foto é aquela que entra no seu pensamento e você não consegue esquecer”. (Josef koudelka)

Fotografias de Josef koudelka:
http://www.magnumphotos.com/Archive/C.aspx?VP=XSpecific_MAG.PhotographerDetail_VPage&pid=2K7O3R135R3G&nm=Josef%20Koudelka


* “E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!“ Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: “Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!” Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: “Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?” pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?” (aforismo 56) A Gaia Ciência (1882) - Friedrich Nietzsche (1844-1900).

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

COTIDIANO


escultura: Design Inke (feita em tela de arame)

Uma dança de equilíbrio
no imenso palco da vida


Onde os loucos
contracenam com os sóbrios


em um grande ato....


masoquista!


Que é apenas um interlúdio,
para a morte.

Luara Caiana

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Anjo

Fotografia de Dafne Spolti