segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

SUR[EUSOCIALIDADE]REAL

por Fernando Gil Paiva

Tal como as complexas organizações das formigas, alguns seres humanos parecem ter atingido certo ponto de equilíbro capazes de gerar, entre si, o cuidado criativo de um para com o outro, pelo menos por um período de suas vidas.

Indivíduos eusociais apresentam três características fundamentais: a primeira delas seria a capacidade de sobrepor gerações em um mesmo local; a segunda o cuidado cooperativo com sua prole; e o último, uma divisão de tarefas.

Leia-se ou releia-se: Para dois indivíduos, separados quatro anos entre si no nascimento, e mais alguns milhares de quilômetros, nasceria tal qual a complexidade das eusociedades, a complexa e psicodélica amizade entre Salvador Dalí e Luís Buñuel, o primeiro espanhol e o segundo Mexicano. Ambos residiriam em tempo comum em Madrid. Em seguida, as formigas começariam a se movimentar.

O ponto de equilíbrio da solução começava a ser elaborado e com uma intensa amizade entre eles, começam a ser sobrepostas suas ideias, ambições, desejos e sonhos... culturas de um convívio de mergulhos sem fim na arte, fosse ela em óleo e cores, fosse em películas e ausência das mesmas.

Depois, o cuidado de um com o outro e da união que levaria ao cuidado de suas proles fílmicas e artísticas. Terceiro pela condizente divisão entre as equipes realizadoras de trabalhos que se efetuariam.

Assim, fez-se a luz.

Em 1928, na França sairia o fruto chamado UM CÃO ANDALUZ, que servia como exemplo de abolição de uma lógica previamente posta e estabelecida pelos padrões daqueles que se diziam no poder. Seria um dos 17 minutos mais avassaladores à mente humana provocados pelo homem nesse âmbito.

E dois anos depois viria outra não convenção como A IDADE DO OURO, antes que Dalí saísse do cinema para dedicar-se apenas ao que era sua vida em arte [arte em vida]. E depois disso, o interrompimento das proles, não da sociedade.

Da esquerda para a direita: Salvador Dalí, José Moreno Villa, Luis Buñuel, Federico García Lorca y José Antonio Rubio Sacristán, em La Bombilla (Madrid). Foto da rodagem de "La Edad de Oro".

Restam aos atuais o cargo da contemplação, que nem mesmo mirmecólogos, puramente estudiosos de formigas, tangenciam o que foi a trama entre esses dois amigos.

Da obra dos dois, marca-se uma possível intersecção fundamental:

As formigas, de Um Cão Andaluz (1928), na mão que se contrai e no tempo vulnerável dos relógios de uma memória inclinada a persistir.


A persistência da memória (1931). Salvador Dalí.

2 comentários:

Clélia disse...

O NÚCLEO PARAFERNÁLIA SÃO COMO FORMIGAS!EUSOCIEDADES! QTA DEDICAÇÃO PARABÉNS

Dafne Henriques Spolti disse...

Fernando, seus textos e seu conhecimento são surpreendentes. Escreva muito!
Beijos
Dafne